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domingo, agosto 26, 2007

A indelével memória


Gosto de imaginar as mãos como roteiros de vida, uma espécie de memória de lugares e afagos. Nelas se plasmam os dias de raiva e a urgência da ternura. Quando nos detemos a olhá-las é possível num vislumbre perceber que campos lavraram e se estiveram caídas tempo em demasia. Por muita água que tenham levado à boca algumas serão sempre mais desertas que outras e fracos serão os vestígios de um dia terem florido. Como baixos-relevos guardam a marca de todas as que apertaram e mesmo para os mais treinados nas técnicas de ver o que é essencial se esse aperto tinha a conivência do coração ou apenas disfarce de circunstância. As mãos ao contrário das palavras, porque menos dadas a coisas da razão, são sempre testemunhos de verdade. A ingenuidade com que revelam o passado torna-as no mais evidente calendário de se ter vivido. Nas mãos guardamos a essência de todas as peles que tocámos e nenhum tempo é suficiente para a diluir ou confundir. Depois de tanta procura, talvez seja nas mãos o melhor lugar para encontrar a morada da alma...