Número total de visualizações de páginas

terça-feira, agosto 05, 2008

No ponteiro dos dias...


Corre um rio alterado no ponteiro dos dias e a paisagem é a memória da cor. O céu que aluguei nesta janela é a minha quota-parte de incomensurabilidade e esta palavra se não é grave é líquida para uma boca em início de anoitecer. Há dias assim, em que ao dizer as palavras elas se insinuam por sabores e nos dias irrepetíveis as palavras tem mesmo corpo e cheiro e nessa altura, nessa altura, eu mordo o silêncio e sabe-me a paixão adolescente e inalo âmbar num pescoço que é só de vento.
Corre um dia alterado no fulgor do rio apesar de longínquo o Outono dos olhos. Pergunto-me pelas veredas por onde nunca chegaste embora eu as tenha pensado para ti, pergunto-me pelo papagaio de jornal e canas que ganhou vida num cinzento de trovoada, pergunto-me pelas manhãs de bebedeira e da necessidade de enlouquecer uma noite para não enlouquecer uma vida, pergunto-me como aqui cheguei tão depressa, e se não foi culpa desse rio alterado que corre no ponteiro dos dias…