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segunda-feira, junho 15, 2009

Façamos de conta...


Façamos de conta, como nas histórias de poucas palavras, que o mundo é um pássaro embriagado de cevada. Que a avó é uma nuvem, pode ser um cúmulo ou um cirro, uma coisa ligeira e etérea, mas que ninguém se lembra se a chuva vem de um céu conservador ou progressista. Que em nenhum lugar ficam impressões definitivas, apenas uma leve poalha que convive na perfeição com a eternidade e outras medidas do tempo para os que facilmente se impressionam. Que um dia, daqueles em que morte tem doze horas e a vida vinte e quatro, alguém te chama como quem canta e te lembra que um melro diz o teu nome todas as noites ao largo das três. Que o rio, que pode ser essa torneira que pinga em perfeita sincronia com tudo o que irrecuperável, transborda e leva os peixes a sítios alucinantes. Que tudo o que aparenta sentido, como a intensidade da luz no rosto pela manhã e periodicidade dos equinócios à altura da cintura, é também uma história de mais ou menos palavras e com um final substituível como um chip de memória.