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domingo, março 14, 2010

mãe-mar


Estar com a mãe é outra forma de ver o mar: o regresso mudamente desejado às águas primordiais! Elas são de um azul variegado da ternura à cólera, numa mesma maré e muitas vezes numa mesma vaga, o barco é colo e logo de seguida um anzol que nos recolhe para dentro da memória que não nos deixam esquecer. A mãe é uma rede cuja malha teceremos envergonhando Minerva e a cada dia que subtraímos ao calendário a malha há-de apertar-nos cada vez mais até ao nó górdio da leveza decisiva.
Estar com a mãe é outra forma de ver o mar: as mãos peixes voadores e os cabelos sargaços que nos fertilizaram o sonho e o sono. Às vezes entram por o mar adentro porque anteciparam o nosso naufrágio, outras assistem do mais alto promontório à nossa bolina desajeitada. Transformam-se, quase sempre, em faróis e é então que mesmo na mais feroz tormenta uma luz ainda que ténue e distante sempre nos aponta o exacto caminho do regresso a casa.