Tudo é vazio, de um vazio com morte dentro, uma morte que
não se sabia poder acontecer; e, no entanto, tudo se sabe neste pequeno barco
que oscila como uma alga, que não se sabe furtar às intempestivas correntes.
E eu não sei o que fazer das correntes: das muitas e
imaginárias cordas que me enlaçam quando tento voar.
Na verdade, não tento assim tanto — e devia. Devia tentar
muito mais. Devia olhar para o futuro com um olhar intenso e magno, e não fazer
uso desta miopia que também se sente noutros lugares do corpo.
Que pena não haver geografias de sítios onde imaginar seja o
passo mais seguro para aceder à realidade; ver o musgo crescer no lado do sol,
e as águas ancestrais deixarem lugar ao vapor — ao morno hálito dos ventos do
sul.
Não sei como cheguei. Não sei como partirei.
Sei apenas que, entretanto, muito daquilo que queria não
aconteceu. E não culpo ninguém, senão este que se agarrou à minha única pele e
fez do frio morada quase instante.
Não sei como aquecer o lugar, não sei como aquecer o sol;
não sei como dizer tudo o que tenho para dizer, e ainda assim não deitar fora a
raiva que trago contra aquilo que não sou capaz de fazer.
Insólito encontro, este, em que me desencontro a maior parte
das vezes.
E depois fica a sensação amarga, ácida, alucinante — de não
fazer o suficiente para adocicar o que ali está apenas para se deixar beber em
dias de alívio que tardam em chegar.
