Número total de visualizações de páginas

terça-feira, junho 06, 2006

Murmúrio das pedras




Imagino-te, antiquíssimo irmão, afagando meticulosamente as pedras. A geometria das estrelas nas noites em que o céu era um diamante multifacetado dizia-te onde as devias plantar. Desenhavas a luz e sombra labirintos de fantasia. Nos decibéis do vento aprendias a povoar o silêncio. Dedos graníticos apontavam o sol e o percurso da vida à morte. Deixaste um recado no coração das pedras, mas ninguém sabe ao certo que palavras querias que elas nos dissessem quando o passado e o presente se encontrassem.
Visitamos-te, antiquíssimo irmão, para ouvir no eco dos lugares a tua voz vinda do fundo do tempo. É que, embora ainda perscrutemos as mesmas estrelas, amemos ao mesmo luar, dancemos nos solstícios, desaprendemos de afagar as pedras para dialogar com a eternidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

De pensamento em surdina, disse para si, quase filosofando ...
... Justo é aquele que encontra o tempo, porque o tempo não escorre, o tempo decorre enquanto é procura. Se nos sentarmos quedos à porta do tempo, ele escorrerá por entre os dedos, gelatinoso, disforme, propício ao precipício das ideias que abandonam a vida, qualquer vida, e tormam o tempo imutável.
... mas não é desse tempo que queria pensar, seria daquele em que se pode dizer até logo, mesmo sendo verdade, mesmo mentindo.
Se encontrar, esse tempo, dirá que está ali ...
... e mais não saberá dizer.
Viegas