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sexta-feira, janeiro 19, 2024

A imaginação é uma casa frondosa

 

A imaginação é uma casa frondosa,

nos dias em que os ventos adornam     

as portadas de silêncio azul. 

Na parte esconsa do sótão dançam os fantasmas,

e o soalho range com saudade

          da seiva que em tempos o inebriava.

Cada memória é um degrau carcomido

        quanto mais se desce.

E na cave dormente mora a criança,

o frágil navio sem astrolábio

que lhe diga onde colocar as estrelas,

por isso se alimenta só de lua

e marés grandes para desencalhar o medo.

Na sala de estar o piano forte

de semibreve tornou-se eterno,

e bem no centro o cavalo de baloiço

agita-se na Cavalleria Rusticana

        que já só ele ouve.

As paredes brancas, tela de entretecer os sonhos,

estremecem ainda pela soma dos muitos passos.

Já voaram tantas telhas, julgando-se aves em liberdade,

e em alguns dias de chuva oblíqua

a imaginação em alterosas vagas

é um rio de completo desassossego

e eu, a ponte, olhando de muito acima,

vendo como são frágeis

estes pilares em que me sustento.

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