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quarta-feira, outubro 04, 2006

Do tempo sem tempo


tragam-me orquídeas para colorir os dias e um perfume de África no lóbulo da orelha e peças de âmbar com insectos maravilha e um cometa com uma cauda de muitas gaivotas e uma mão cheia de pedras de chuva mas escondam na pele a carícia do vento azul porque ninguém acredita que um nome possa inventar um caminho sem retorno para a alma adormeço com a mágoa acesa de te saber longe o meu braço só te toca e não te envolve arrisco assim estar demasiado distante do centro do universo só oiço o marulhar dos teus antigos passos na relva na areia na calçada na encruzilhada das linhas da minha mão e escorres pelos lábios da serpente do tempo finjo a morte para não te ofender o sono esqueço-me de respirar para não embaciar os teus olhos de vitral e canto a vida como os seres de um só dia se nos encostássemos sustentaríamos o mundo à altura do peito então tu beijarias o hemisfério norte e eu traçaria a linha do equador na curvatura do teu ventre assusta-me só saber ler a primeira página do teu rosto e há quase uma eternidade te ouvir dizer as palavras que me sossegam amo o mistério da tua opacidade como amo os cisnes que voam da tua para a minha boca não sei se amanhã é o primeiro ou o último dos dias e por isso hoje aqui agora neste instante te ergo esta catedral de fulgurantes pérolas trazidas do âmago do tempo e deixarei que nas escadas de mármore escandalosamente impoluto corra um rio para que possas navegar na tua casa no teu mar de desejos como uma ave de prenúncios de delícia avisto já o relógio nas altas esferas solares mas é cedo demais para vestir o futuro pois ainda não descoloriram as orquídeas e não se dissipou o perfume na tua orelha.

1 comentário:

ELA disse...

Confesso que a ausência de pontuação me baralha. De qualquer modo, devo dizer-te: tenho saudades!