Queria-me ler a sina, e eu quase
fui tentado a pôr um pé no futuro e deixar o outro aqui enraizado neste instante.
Sendo tudo tão incerto, porque não haveria ela de pertencer a um tempo adiante
e vir de propósito para me ler a caligrafia do inevitável. Habituado a duvidar,
olhei-a por cima do ombro e disse que já sabia tudo o que me esperava, porém,
segui com a inquietude a crescer, como uma erva daninha, a cada passo somado. De
facto, nada sabia e ela, no fundo daqueles olhos cândidos, podia guardar o
segredo da textura dos meus dias a vir, ou o caminho de ser completo e feliz,
ou a astúcia para contornar as etapas em que se perde sem remissão. Quem sabe
se ela não guarda todas as vidas de memória e a revelação desse segredo se
oferece como um presente no presente, mas apenas uma vez e como um desafio para
os mais temerários. Quem sabe se em cada mão por mais gasta e ausente de ternura
não se oferece o itinerário do futuro. Quem sabe se ela não me esperava ali desde
sempre e a minha pressa em não acreditar me condenou ao que há de eterno no
presente…
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