E o que fazer se, ainda assim, a
dor persistir ou se se agudizar? Talvez dançar de forma mais inteira,
entregar-se nos braços dos ventos de levar para longe, deixar que os pés lavrem
o palco, o pátio, o quarto esconso e com o cheiro a noites de tanta gente. Dançar
no auge do inverno e entre as mãos e os dedos curvos, curvos como as velhas
âncoras que seguram o barco de sempre a sempre, arranjar lugar para lançar
sementes da tua voz balsâmica e do teu corpo opiáceo. Não se inventou, ainda,
melhor forma de apaziguar a dor.
Depois, em segredo, dir-te-ei que
há um universo de multifacetadas dores. Da mais fina, do florete a beijar a
pele, à mais insidiosa, que é a lâmina traiçoeira da perda antes do tempo
próprio. Para todas há um passo de dança. Do tango à rumba, passando pelo
valsa, o alívio é súbito e avassalador como uma alvorada tropical.
E quando, quase em êxtase, o teu
corpo renascer como o eterno tambor das noites africanas, nenhuma dor ousará
sequer visitar-te quanto mais morar-te. Dançarás, então, à lua para a encher de
crescente inveja e queimarás a última dor nessa fogueira das altas estrelas que
dão brilho aos teus olhos.
1 comentário:
Desejei que este texto fosse meu.
Copiava-o sorrateiramente... só que o plágio já fez com que um secretário de estado se demitisse este ano...que pena!
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