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sexta-feira, dezembro 27, 2013

que horas são fora dos dias?

A imaginação, com cores ainda sem nome, desceu pelas margens, roçou os pulsos das árvores aquáticas e levantou voo rumo à primeira nuvem no azul escarlate de um falcão peregrino. Os peixes de relance nadaram o futuro nos répteis que se aquecem no inferno.
É quase noite, nestas oito horas da manhã, tarde demais para que a mulher de vidro, com filigrana esbelta na cintura, possa beber o orvalho. A embriaguez vai ter que esperar por lábios pontuais, enquanto um casulo tece a malha dos dias e nas folhas de outono um rapaz desenha o universo num só sopro.
São raras as camélias nos chapéus, raríssimas as máquinas de costurar sonhos e não existem, de todo, deuses sóbrios de sobra. Há quem nunca adormeça com receio de acordar outro, de não saber colar peça a peça, no exato lugar, o primeiro beijo e o relâmpago que prenuncia o alfabeto do desejo.
Um cavalo galopa a tua imaginação e és a estepe, uma ave debica o teu olhar inquieto e és a linha do horizonte, uma boca de dizer abocanha o teu pescoço breve e és o acordar ao lado de quem amas. Mas também podes ser nada porque tudo te maça e porque a vida é demasiado longa para quem tem o relógio sempre atrasado. 

1 comentário:

Renato Monteiro disse...

Que poeta andava com o relógio de pulso cinco minutos adiantados para retardar a morte em igual tempo?

Um belo texto!