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sábado, novembro 08, 2008

da luz e das sombras

1. Entardece: luzes longas no rumor das sombras. O ponteado das nuvens tece silhuetas e mãos de cirros que teclam um horizonte quase perfeito. É a hora mágica das gaivotas, dos que se perdem no olhar, dos ocasos iridescentes e do último suspiro solar.

2. Anoitece: alguém acende as estrelas, aguça as cintilantes pontas e afaga seios meia-lua como se dissesse boa-noite. Há uma nocturna vida que cumpre o ciclo do contra luz e explode em vivo vermelho nos olhos dos amantes e dos cães famintos. Há um manual de sobrevivência à espera em todos os jardins sobranceiros a Lisboa e os perfumes antes do orvalho.

3. Amanhece: a menina que leva beterraba para alimentar o sol está atrasada. É fria a divisão da vida dos que rangem como os eucaliptos velhos. De que brisas vieram tantas aves madrugadoras e os rios a cintilar pepitas na nudez das margens? Deixo uma harpa em bom estado, um dedo gasto das cordas, uma voz a soar a café matinal e vou-me deitar na cama de onde se levanta o dia.