«Retorno
Fechado o
círculo
Eis o encontro
Com o sentido
Contrário
Eu mesmo
Comigo defronte
Mas depressa
A pressa da
fuga
É o confronto
Liberto
A face do verso
E do anverso
Recomeço
A minha medida
O que meço»
Renato Monteiro
Se dizer a
tristeza fosse forma de a amenizar eu regressaria de imediato ao tempo das
repetições infindas sem que isso fosse castigo, mas não há regresso, não há
prestidigitação que sirva para enganar a ausência. É nestas alturas que invejo
os que acreditam numa qualquer forma de reencontro, num breve interregno que a
seu tempo permitirá reatar o que ficou incompleto, mas esta inveja é coisa de
sentir, porque pela razão, ainda assim, continuo do lado do universo
irrepetível, desencontrado e absurdo.
Estou cheio
dessa ideia apaziguadora do enquanto houver memória, estou cheio desse bálsamo
barato de que fica sempre o passado, estou cheio desses paliativos contrafeitos
para amenizar a perda, é o futuro a cumprir que fere pelo vazio, pelo silêncio,
pelo intocável e tudo isto é irremediável quando o tempo deixa de acolher no
mesmo ciclo os que caminhavam juntos.
Calcorreámos
estradas, resgatámos veredas, navegámos rios e margens, e discutimos o nome das
árvores que nelas escondiam as garças e as cegonhas retardatárias. E visitámos
conversas que duraram uma cerveja ou uma borba sem fim anunciado e que entravam pelas
noites dentro antecipando o luar absoluto.
A quem vou eu
agora pedir conselhos sobre os cinzas que das fotografias se precipitam para a
vida? A quem vou eu agora pedir que recite de memória e de forma ímpar os
poetas que me ensinaste a amar? A quem vou eu agora pedir que partilhe as
histórias de pirilampos, de angariador de paixões pelo deserto, ou de tudo o
que é ao Sul tirando a Ribeira e a beleza das coisas simples? A quem vou eu agora pedir que de áfrica
relembre os cheiros do capim e das cubatas e a metamorfose dos rapazes que a
guerra tornou homens? A quem vou eu agora pedir que sem rumo se faça à estrada
porque me ensinaste que viajar é o único alimento das almas inquietas?
Não sei que
deuses deva insultar se acaso algum existe, não sei que relógios deva destruir
quando me dizem que chegou a tua hora, não sei como me insurgir contra este
inclemente e inexorável ciclo do carbono, não sei contra o quê ou quem deva
dirigir a minha insanável e descomunal revolta de te ter deixado ir tão cedo e
tão breve, querido amigo.