Vivaldi falou-me em cordas, e logo a mim que já não sei do
pião… não chegámos a discutir porque nenhum som soou grave. Apenas um
suavíssimo sussurro me trespassou a pele e esta tamborilou noite dentro entre
um frio esquecimento e a memória de palcos de festa. Acordei entre acordes de
arcos perfeitos e adormeci um dia inteiro na insaciável sombra da rotina. Saber
que sem música a própria harmonia celeste desafinaria deixou-me confortado, um
relojoeiro de sonhos em forma de roda dentada, um mágico de estrelas entre
marés e um escorpião escarlate para me envenenar os pensamentos sombrios,
povoaram o meu descanso e semearam tempo a meu lado. Vivaldi murmurou em dó
sustenido uma história de dedos de alma irrequieta e eu sosseguei esperando pelo
exato tempo da próxima estação.
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quinta-feira, dezembro 01, 2011
segunda-feira, julho 11, 2011
do silêncio
O meu reino por uma palavra, o meu reino e a minha vida por duas, o meu reino a minha vida e toda a minha memória por um verso que me ajude a fechar os olhos sem temer a duração do sono. Há quem apanhe borboletas filtrando o vento, quem pesque peixes purpura que nunca existiram, quem conte histórias para alisar o caminho das palavras e chegue a beijá-las para que a ternura as ligue sem remissão umas às outras. Talvez nenhum dicionário contenha tantas palavras quantas o silêncio e por isso tantos o habitam demoradamente.
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