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terça-feira, setembro 24, 2013

A António Ramos Rosa

                                                                                                   abril, 2011

Ao António,

quase um sussurro, uma última palavra aberta, um olhar vagaroso fundeado na ria
as mãos de onde eclodem conjugações improváveis são ramos da grande árvore
o teu olhar meigo e fundo como todas as noites com estrelas
a cadência meticulosa do dizer o que há de música no fim dos dias
tudo era natural em ti como as paixões excessivas por um único verso.
ainda os poemas te hão de procurar por muito tempo no quarto virado ao sol
e virão os pássaros e o cheiro a relva e um relâmpago ver o que escreves
na mesa redonda de onde os poemas pendem como água para ávidos lábios
far-se-á amanhã silêncio e sem palavras também não nascerá uma mulher pelo rosto
outro dia dos dias que te hão de contar alguém te há de dizer como uma rosa
e uma e outra a cada nova floração te dirá ao vento ou ao ouvido de quem se ama
e tu pela derradeira vez “te illuminas d’immenso” e trocas a eternidade por um poema…