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quinta-feira, julho 01, 2010

do inverno e da saudade


Começou o inverno: a saudade é fria e chuvosa e dias há em que enregela a parte mais habitável da alma.
Teremos colhido nas palavras, ou suspeitado apenas, a sua seiva doce, a sua entoação reticulada, a música das vogais mudas, aquilo que elas nunca saberão dizer, porque só pode ser dito não se dizendo…
É estranho este caminho pelo passeio dos instantes quando abre para paisagens que já floriram antes de chegarmos. Que não aguardaram que o nosso sopro levasse o pólen, as sementes e o nome provável do que há-de germinar.
Não há quem fique a segurar o sorriso, como uma janela aberta, como um convite, como um fio de seda, como um cálice de memória, apenas a sombra do que nunca foi alimentado pelo Sol e nunca sentiu a vertigem de ser maior sem tamanho.
Ainda podia falar do cuidado, da fragilidade das asas das borboletas, do cristal que alguns olhos emitam, e do adormecer a contar os segundos fora das horas onde se acordam as pessoas doces de dizer. Mas quem arrisca, quem desce ao chão mesmo da raiz, à nascente para perceber a foz, ao silêncio para perceber a fecundidade da música, à dúvida para nunca mais acreditar nas certezas.
Creio que são os grilos que desafiando a noite me entram pela alma e por qualquer estranha e desconhecida harmonia me convidam a cantar às estrelas, talvez aproveite e cante também aos que apesar da usura do tempo nunca esquecerei…

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