Vivaldi falou-me em cordas, e logo a mim que já não sei do
pião… não chegámos a discutir porque nenhum som soou grave. Apenas um
suavíssimo sussurro me trespassou a pele e esta tamborilou noite dentro entre
um frio esquecimento e a memória de palcos de festa. Acordei entre acordes de
arcos perfeitos e adormeci um dia inteiro na insaciável sombra da rotina. Saber
que sem música a própria harmonia celeste desafinaria deixou-me confortado, um
relojoeiro de sonhos em forma de roda dentada, um mágico de estrelas entre
marés e um escorpião escarlate para me envenenar os pensamentos sombrios,
povoaram o meu descanso e semearam tempo a meu lado. Vivaldi murmurou em dó
sustenido uma história de dedos de alma irrequieta e eu sosseguei esperando pelo
exato tempo da próxima estação.
2 comentários:
E o Bach? O Haendel? o Verdi? O Mozart?
Sim, para quando outros textos, outros compositores?
Renato Monteiro
Pelos vistos, as palavras voaram com as notas musicais! Há que chamá-las!
R. M.
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