A imaginação,
com cores ainda sem nome, desceu pelas margens, roçou os pulsos das árvores
aquáticas e levantou voo rumo à primeira nuvem no azul escarlate de um falcão
peregrino. Os peixes de relance nadaram o futuro nos répteis que se aquecem no
inferno.
É quase noite, nestas oito horas da manhã,
tarde demais para que a mulher de vidro, com filigrana esbelta na cintura, possa
beber o orvalho. A embriaguez vai ter que esperar por lábios pontuais, enquanto
um casulo tece a malha dos dias e nas folhas de outono um rapaz desenha o universo
num só sopro.
São raras as camélias nos chapéus, raríssimas as máquinas de costurar sonhos e não existem, de todo, deuses sóbrios de sobra. Há quem nunca adormeça com receio de acordar outro, de não saber colar peça a peça, no exato lugar, o primeiro beijo e o relâmpago que prenuncia o alfabeto do desejo.
São raras as camélias nos chapéus, raríssimas as máquinas de costurar sonhos e não existem, de todo, deuses sóbrios de sobra. Há quem nunca adormeça com receio de acordar outro, de não saber colar peça a peça, no exato lugar, o primeiro beijo e o relâmpago que prenuncia o alfabeto do desejo.
Um cavalo galopa
a tua imaginação e és a estepe, uma ave debica o teu olhar inquieto e és a
linha do horizonte, uma boca de dizer abocanha o teu pescoço breve e és o
acordar ao lado de quem amas. Mas também podes ser nada porque tudo te maça e
porque a vida é demasiado longa para quem tem o relógio sempre atrasado.
1 comentário:
Que poeta andava com o relógio de pulso cinco minutos adiantados para retardar a morte em igual tempo?
Um belo texto!
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