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terça-feira, setembro 22, 2020

Ao Diogo

Sabemos todos, como havíamos de não saber, que o inevitável é como um pano de cena infame que cai quando entende que é tempo de dar descanso aos atores. É só então que nos apercebemos que algumas representações são as últimas, que não há próxima sessão, que não há mais voz, nem palco, nem espetadores que partilhem uma qualquer das formas de gostar de estar junto, porque já não há como estar junto. 

A vida vai tecendo uma extensa e emaranhada teia onde alguns ficam sem esbracejar, onde outros, momentaneamente, habitam para logo partir e onde outros, ainda, porque sabiamente nos alertam para o que há de frágil, mas também de espantoso em toda a teia, são o lugar onde a ancoramos. 

Sim, é certo, a memória torna o inevitável, lento, prolongado, suportável. Mas não bebe connosco, não dá abraços, não usa a vontade e o cuidado para se importar com o modo como nos corre a vida, sendo já parte da nossa vida...

Os atores exigentes e inteligentes serão sempre os mais incómodos, porque não se restringem ao papel que lhes destinam, desafiam, inventam, criam, emocionam e reescrevem e comprimem o tempo à sua volta, e também por isso serão os mais lembrados, porque cala fundo a sua ausência. 

Se encontrares por aí o Schopenhauer, ou outro do teu seleto Olimpo, diz-lhe que um dia destes beberemos qualquer coisa juntos e voltaremos a filosofar sobre o que ficou em falta nas tardes que não se cumpriram.

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