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terça-feira, março 06, 2007

Ingratidão do tempo


Talvez fosse tempo de repensar o curso que vinha dando à sua vida. As noites eram agora mais amargas, os velhos amigos escasseavam e o álcool já não despertava a alma de forma avassaladora como antigamente. Nos bares que frequentava as mulheres eram cada vez mais esquivas, as aventuras de uma noite rareavam e, quando consumadas, deixavam-lhe um trago amargo de pouca valia. Lembrava-se dos tempos em que as noites eram um festa ininterrupta, em que tudo era luz e cor e música para alimentar os sentidos. Os tempos mudam, pensava ele, para justificar as mudanças na própria vida. As jovens de pele luzidia e libido intempestiva procuravam garanhões, machos no zénite da pujança, e olhavam-no já com alguma desconfiança. A barriguinha combatida a muito custo começava a atraiçoá-lo. No entanto, ele considerava-se na posse de todas as suas faculdades, mas a melhor publicidade é conseguida pela adesão à primeira imagem e essa era madrasta. Nessa noite, quando lhe cantaram os parabéns e lhe ofereceram o bolo de aniversário com as 86 velas estranhou que nenhuma das moças que solidariamente cantaram o tivesse desafiado para uma noite de arromba. Adormeceu convencido que o tempo é ingrato.

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