Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, novembro 30, 2007

Antes do ocaso...


Trazer as chaves com os dedos em riste, nunca se sabe se a porta abre para o abismo. Do mesmo modo, as pontes, os regatos, com erva daninha em redor, podem bem ser só para olhar. O suposto saber acerca das coisas inibe que as toques sem uma escolha prévia da textura, por isso há que ressuscitar a cegueira antiga das mãos. O quadro onde te revelaste pelas cores pode ser parte do arco-íris mas é sobretudo o opaco vocabulário da tua consciência. Sobreviveste à possibilidade instante da morte porque chegaste atrasado ao encontro ou porque é inestético morrer quando ainda há muita música para ouvir. Amas os grandes espaços, os desertos de areia ou de água, porque neles se deita melhor o olhar e é morada suficiente para todos os que desejas. Invejas as noites sem lua porque assim no céu do teu corpo podes acolher ciosamente a luz das estrelas mais antigas. Beber o licor como o mar bebe o rio e sentir a ebriedade das alterosas ondas é outra forma de acolher o Inverno. Ser criança pela vida fora é uma espécie de contrafacção dos calendários, apesar da roupa nos deixar de servir. Viver só porque te comprometeste com o futuro pode ser arriscado se tens o hábito de te esquecer das horas. O melhor mesmo é ires já beijar os que regas a gotas de ternura não vão eles crescer demasiado para que lhes chegues aos lábios.

1 comentário:

ELA disse...

Parabéns por mais um post soberbo, amigo. Abraço.