toda a noite se ouviu um piano, um piano já rouco de tanta música dizer. nos degraus de marfim deslizaram histórias antigas e uma paisagem de sóbria harmonia acomodou-se para saudar o dia. as janelas de casa deixavam entrar na luz pouca de fim de noite a cidade serpenteante. tremeluziam os olhos das pessoas no brilho branco dos lençóis. a árvore grande despenteada pela noite de vento respirava verde. nas paredes brancas dissimulavam-se os fantasmas das semi-colcheias em ecos perfeitos. a fronteira de luz separa dois mundos e a música do piano rouco é o passaporte para cruzar de um ao outro. as estrelas retardatárias acomodam-se em pequenas gavetas de nuvens. e o sol aparece com os ombros expostos e um sorriso de enternecer quem na cela acorda atento ao ruído da vida. as gaivotas partem para a pesca com as asas cheias de nada e só por isso planam iludindo o cansaço e o azul imenso. uma criança ri porque o cão ladra e o gato mia e fica feliz pelo lugar próprio das coisas.
4 comentários:
De novo o silêncio.
Ainda estava a convalescer do último post, quando me deparei com este! Dê-nos tempo, homem! Ainda bem que estou de malas feitas para as férias. Preciso de arejar e de ler umas coisas menos boas que as suas. Boa Páscoa.
Não aprofundei, mas achei muito giro :-)
Estamos a ficar impacientes. Escreva-nos.
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