A imaginação é uma casa frondosa,
nos dias em que os ventos adornam
as portadas de silêncio azul.
Na parte esconsa do sótão dançam os fantasmas,
e o soalho range com saudade
da seiva que em tempos o inebriava.
Cada memória é um degrau carcomido
quanto mais se desce.
E na cave dormente mora a criança,
o frágil navio sem astrolábio
que lhe diga onde colocar as estrelas,
por isso se alimenta só de lua
e marés grandes para desencalhar o medo.
Na sala de estar o piano forte
de semibreve tornou-se eterno,
e bem no centro o cavalo de baloiço
agita-se na Cavalleria Rusticana
que já só ele ouve.
As paredes brancas, tela de entretecer os sonhos,
estremecem ainda pela soma dos muitos passos.
Já voaram tantas telhas, julgando-se aves em liberdade,
e em alguns dias de chuva oblíqua
a imaginação em alterosas vagas
é um rio de completo desassossego
e eu, a ponte, olhando de muito acima,
vendo como são frágeis
estes pilares em que me sustento.
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