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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Da saudade


Ao meu pai,

Quando a grande noite se avizinha, ave de insondáveis lugares, aquilo que nos resta é guardar o brilho, o toque, o som amável no único lugar inapagável, a memória. Procuramos nestes dias de olhos no horizonte perscrutar um sentido, uma fórmula que decifre o que não pode ser dito pelas palavras. O silêncio desce cumprindo o inexorável. Enquanto alguém saiba que aqui estiveste, não terás de facto partido. E há uns que sabem mais do que outros porque mais próximo respiraram a mesma casa, a mesma morada de afectos. O tempo gasta-nos, passa sobre a nossa pele e enruga o olhar, amordaça a voz e convida-nos a mudar de substância. Nada há que nos espere, nada há que nos redima, nada há que nos substitua, apenas ficaremos para sempre presentes nos que nos amaram. O inevitável não é indolor por ser inevitável, apenas ocorre como a própria estrutura da realidade. As coisas são o que são, a vida filtra-se a cada novo ocaso, a ausência de cor é um repouso mais prolongado. É esta a história dos homens, esta será sempre a história dos homens, aceitar não é uma rendição. É saber que o Inverno pode tardar mas nada há que o impeça de se cumprir. Por isso todo o tempo é pouco para amar a vida e amar os que nos ensinaram a respirar. É um até logo, nunca um adeus!

24/02/2005/6

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois! A reconstrução do eu é permanente. Quando o primeiro eu de nós se ausenta, ficando cá dentro, fica-nos o espaço para nos colocarmos silenciosamente no seu lugar, para que o terceiro eu assuma a sua posição neste infinito puzzle de reconstrução. O silêncio desce inexorável! Nunca somos o primeiro eu. Seremos sempre intermédios! As coisas são o que são! Até logo, bom amigo.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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outroblog disse...

é um até logo sim.
li em voz alta o seu texto e olhei um fotografia do meu pai e sim
"...é um até logo, nunca um adeus..."
obrigada por este texto.