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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Do tempo divergente


Há vinte anos - é tanto tempo vinte anos e passaram como um sopro -, quando comecei a receitar manuais de filosofia como suplemento vitamínico de grandes ideias, os pacientes pareciam-me menos pacientes. Parecia haver um brilhozinho nos olhos que augurava uma pujante saúde mental ou, pelo menos, um desejo de transformar o futuro. Hoje, são os filhos destes que me olham com um olhar vago, um mortiço incómodo resistente a qualquer desafio. Pergunto-me se não terei sido eu que envelheci e perdi a acuidade de falcão que tinha então no olhar, e, por isso, vejo mal e, logo, entendo mal. Digo que são cada vez mais imaturos, mais conformados, mais incapazes de tentar a sorte de Ícaro, ou serão os caminhos deles cada vez mais divergentes do meu e por isso nos afastamos inexoravelmente? Eles caminhar, caminham. Mas talvez me falte o fôlego para lhes seguir no encalço e, por isso, justifico-me dizendo que não sabem nem por onde nem para onde vão? O tempo não aplana só as montanhas, também incita a outros voos, alimenta outros sonhos...
Tenho que levar as asas e os olhos à oficina!!!

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