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sexta-feira, novembro 24, 2006

Quem chora as borboletas nos dias em que morrem?


De tempos a tempos vêm-me à memória as palavras da Maria Joana, a professora de português que há umas décadas atrás se cruzou no meu caminho, dizia ela que as únicas pessoas verdadeiramente livres eram os vagabundos, porque esses nada tendo nada temem perder e a liberdade é exactamente essa ausência de amarras que a posse do que quer que seja imediatamente institui. O vagabundo possui de seu os passos, os caminhos que faz ao caminhar, o ar que respira e a fome que engana com ardis de ocasião. Não é seu o brilho das estrelas, nem o luar baloiçando no rio, nem tão pouco o frio de Dezembro, embora os conheça como ninguém. Vive cada dia à vez, nada o prende ao passado e nada o chama do futuro. É inteiro porque se leva todo para onde quer que vá. Enquanto nós, arrastamos a cada passo as grilhetas dos compromissos, o medo de que nos subtraiam o que chamamos nosso, a angústia permanente de que façamos o que fizermos nunca havemos de ser suficientemente felizes. A morte assusta-nos não porque seja inevitável mas porque nos há-de separar irremediavelmente do que acumulámos com tanto esforço e obstinação. O vagabundo morre todos os dias em paz, só de si ele sentirá falta se não voltar a acordar. Quem chora as borboletas nos dias em que morrem?

1 comentário:

ELA disse...

A liberdade do vagabundo é tão limpa quanto assustadora. Se calhar assusta-nos a ausência da busca que, desenfreadamente, vivemos como que emersos numa nausea redonda, pensando que somos mais felizes por isso.
Parabéns pelo post.