Podia escrever sobre o mundo nos
seus mais ínfimos pormenores: a queda da folha no seu outono próprio na
bilionésima segunda árvore a contar do lado esquerdo do continente africano ali
no coração do zaire, ou será que já não existe o zaire e esse grande pormenor
ocultou-se aos meus olhos?... Podia falar do bicho-da-seda que resolveu
tecer-se a si mesmo numa caixa de sapatos ténis baratos numa favela do rio e
tem sonhos de borboleta várias vezes ao dia; podia falar de uma imprecisão no
osso externo de um gibão fémea que lhe dificulta as acrobacias matinais ao
redor da fruta doce e suculenta; podia falar do oitavo planeta que gravita uma
estrela no coração de andrómeda onde corre ácido sulfúrico numa cascata
fumegante e não há ninguém para adormecer à janela; podia falar de tanta coisa
sem mérito nem significado mas temo despertar-vos para lugares sem luz
artificial nem sofrimento, por isso falo-vos apenas do tempo incerto para
amanhã à porta do vosso desespero…
1 comentário:
Após tão longa hibernação, ei-las de volta, as musas.
Então, só nos restará propiciar-lhes uma boa estada por aqui, de forma a não baterem as asas tão cedo!
E talvez se possa começar com a embriaguez de uma taça!
Renato Monteiro
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