Ao longo do Tejo, bordejando as
águas, por entre salgueiros, choupos e alguns ulmeiros, vive gente que sabe de
cor todas as cores de que ele é capaz, que tem um mapa absolutamente fiel das
suas correntes mas que, acima de tudo, o respeita como se costuma respeitar o
que nos alimenta e, por isso, nos mantém vivos.
Aos poucos, ouvindo as suas
histórias, curtas de palavras porque não foram feitos para historiar mas para
viver, comecei a entender como podem os irmãos só o serem porque filhos de um
destino comum. Assim acontece com estes homens e mulheres que desceram ao sabor
da corrente esperando encontrar uma praia, um meandro, um baixio onde fosse
possível começar de raiz a viver.
Já se passaram algumas gerações,
em certos casos, e noutros apenas uma medeia o passado e o presente. E porque o
mar em mediana altercação é tão perigoso como um rio que engrossado tudo
arrasta até à foz, muitas famílias deixaram a areia ou o pedregoso das falésias
para virem na sombra do rio assentar ferro e entre a oscilação longa das marés
reiniciar a vida.
Têm o corpo retorcido como se
tudo neles fosse um reflexo do próprio rio rasgando curvas nas margens,
descendo calmamente planícies ou pulando para fazer espuma nas fragas negras e
velhas de mais para terem um tempo calendarizável.
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